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Teve um tempo em que eu era tão consumista que acreditava ser necessário comprar todas as tendências que achava bonitinha e corria para as lojas, principalmente fast fashions, garimpar as novidades. Sempre tive um estilo meio fixo, porém algumas influências na minha personalidade mudam com o passar do tempo conforme as artes me inspiram (filmes, livros, personagens, música, desfiles…), e lá vou eu às compras novamente. Só que não há armário e nem bolso que resistam a essa imaturidade. Chega uma hora em que você se vê com um recinto da sua casa entulhado de peças LINDAS (ou não) e que estão ali paradas, muitas vezes até com a etiqueta pendurada, apenas ocupando espaço e satisfazendo uma parte do ego que você nem se lembra mais de ter sido aguçada no instante em que entrou naquela loja online ou se deparou com ela na vitrine do shopping. Também há aquelas peças que tanto amamos mas que são descartáveis: usou mais de 5 vezes e já virou pano de chão! Dá até dó jogar no lixo aquela camiseta que vestia tão bem e ia bem com tudo, mas que agora está toda desgastada ao ponto de que nem a maior das modas de peças “destroyed” é capaz de ressuscitá-la.
Isso tudo é sinal de um problema chamado consumo desenfreado. A peça descartável e baratinha só existe por causa dessa nossa pressa em consumir e é um prejuízo tanto quanto uma cara de qualidade que está ali mofando no seu closet. Os dois extremos são prejudiciais, não apenas para as suas finanças ou para a contribuição de poluição no mundo (no caso dos descartes), mas também para a sua saúde física e mental. Juntar ácaros e olhar para peças que “um dia eu vou precisar/um dia vou caber nelas” não fazem nada bem. No final das contas é um monte de pano sem utilidade, sem vida. Sem contar que muitas delas podem ter sido produzidas utilizando mão-de-obra escrava ou desumana (não só as de fast fashions, vale ressaltar).
Somos bombardeadas com aquelas listas em revistas de moda que dizem o que um guarda-roupas básico de mulher PRECISA ter. Você não tem opção de gostar ou não de scarpin nude/preto, você PRECISA de um. Bem como uma sapatilha, um camisa branca, um vestido preto e etc. Não, eu não preciso de todas essas coisas! A maioria nem bate com a minha personalidade. Camisa branca para quê? Meu trabalho não é nem formal. Se algum dia eu encontrar uma modelagem bacana, ok, vou usar. Mas se eu comprar isso aleatoriamente, terá apenas um destino no meu armário: MOFAR ad. infinitum.
Depois de um tempo trabalhando com o blog e publicando alguns looks meus, comecei a me deparar com comentários fortuitos que exigiam esse consumismo alienado. Não era mais possível combinar uma blusa azul bebê com jeans, tinha que ser uma azul royal! “Acho que você deveria ter combinado esse look com uma sandália laranja no lugar dessa rosa”. Como se fosse minha obrigação ter uma peça de cada cor! (Geralmente quando eu gosto de alguma peça eu até compro em todas as cores, na medida do possível. Mas nem sempre é possível, né!) Sem contar que os meus looks aqui eram apenas para mostrar quem eu era na prática e não “lançar tendências” e nem nada no sentido fashionista.
Sentia saudade daquele tempo em que eu consumia puramente as peças que lembravam algo que eu realmente amava, que batiam totalmente com a minha personalidade. Um top “bem Britney Spears”, uma sandália “bem Spice Girls”, um vestido “super Versace”, uma saia “meio Lauren Bacall”… coisas que sempre amei de verdade e não apenas temporariamente ou que achava que estava na moda. É brega? E daí, se faz me sentir bem.
Então comecei a frear essa onda e parei para analisar o meu estilo. Comecei comparando os looks que eu mais gostava e repetia, procurei o que tinha de comum entre eles que faziam eu me sentir tão bem, juntamente com o que eu achava essencial agregar para combinar com a minha personalidade atual. Cheguei a um desfecho e a partir daí tudo ficou mais fácil. Desde 2013 eu faço compras mais conscientes, sempre visando apenas o que bate com aqueles meus desejos e que eu sei que permanecerão por um bom tempo, seja porque sempre quis algo parecido ou que dá um match perfeito evolucionário nas minhas preferências. A cada 6 meses faço uma análise do que continuo gostando e do que já não mais me apetece, retiro do armário algumas peças para doação e abro espaço para o novo (bem medido) entrar. Desapegar é difícil, porém fundamental.
Ainda tem muita coisa desnecessária aqui, admito. Umas que fico com dó de ter gastado tanto dinheiro e nunca ter usado, outras que pertencem à pilha de “eu queria que isso combinasse comigo/me servisse”, algumas que me seduziram com a etiqueta da promoção e outras que até não combinam com a minha personalidade mas são confortáveis (essas últimas eu deixo para os dias de preguiça, tipo lifesaver).
É um exercício que farei para o resto da vida. Mas o mais importante é que cheguei na conclusão de que eu não preciso ter um guarda-roupas perfeito, o meu estilo não precisa ser super afiado 24hs por dia apenas porque trabalho com moda (o conforto agradece!), também me permito ser hedonista vez ou outra (sou humana tb, ué)… o importante é não acumular panos e deixar as roupas viveram, terem uma história. Se não comigo, com alguém que as trate bem.
Começo de ano é assim mesmo. Depois de toda essa análise vou correr arrumar meus armários e praticar o desapego mais uma vez. Há roupas ali que merecem conhecer o Sol, respirar novos ares (e pararem de poluir o meu tb hehe). Temos que nos dar esse presente vez ou outra. Abrir espaço para o novo. Desapegar.
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