Liberdade sexual e roupas customizadas – como punks e strippers foram os responsáveis pela mudança na moda dos anos 70 e nos códigos de estilo que seguimos até hoje
Punk, sexo e moda sempre estiveram intimamente ligados. Em Londres, a boutique Sex da Vivienne Westwood vendia roupas fetichistas reelaboradas (às vezes apenas re-contextualizadas): a icônica ‘calças bondage‘ (adornada com cintas, amarrações e fechos de metal) e camisetas impressas com seios nus. Em Nova York, um estilo semelhante de se vestir foi adotado pelos punks undergrounds associados com o clube CBGB (o berço do punk rock).
O vocalista do The Cramps, Lux Interior, muitas vezes se apresentava usando um macacão de PVC colado na pele, sua parceira e companheira de banda, Poison Ivy, frequentemente subia ao palco usando lingeries reveladoras, cinta-liga e chicote. Mas a relação entre os punks e o cenário sexual não era uma via de mão única, como a história da vida noturna costuma demonstrar.
Punks e Strippers Unidos
De 1960 até 1980, os subversivos da cena de São Franscisco se transformavam em celebridades locais; o comportamento rebelde nos estabelecimentos obscenos que frequentavam colocavam em teste os códigos legais e morais, enquanto ajudavam na liberdade sexual e desbravavam um novo tipo de entretenimento. Carol Doda foi uma dançarina que colocou o Condor Clube no mapa, fazendo seu proprietário, Gino del Prete, ser preso por lascívia por ter transformado seu estabelcimento no primeiro bar de topless do mundo. Até hoje ela é reconhecida por tornar a Bay Area de São Francisco um “distrito da luz vermelha“, recebendo até uma placa em sua honra por ter entrado no bar fazendo topless, no dia 19 de junho de 1964, e sem a “parte de baixo”, no dia 3 de setembro de 1969.
Vizinho do Condor Club, o Mabuhay Gardens, seria igualmente notório. O local era responsável pelas noites punk, cabaré de estilo vaudeville, e, devido à sua localização na área indigente da cidade e sua proximidade com os stripclubs, tornou-se um ponto de encontro para strippers na hora da folga. Inclusive Dirk Dirksen – outra lenda local, o MC conhecido por ser o Papa do Punk – promovia suas bandas favoritas nos palcos do Mabuhay com intros do tipo: “Na melhor tradição do sadomasoquismo, orgulhosamente apresentamos um dos atos mais trashes já vistos nos últimos tempos”.
Mau gosto e o Punk jovem
Escritora, música e promotora da noite punk, Jennifer Blowdryer promoveria esse mix de estilos entre o punk e entretenimento adulto, o Smut Fest. Ela oferecia o palco para strippers e profissionais do sexo realizarem suas próprias poesias. “Algumas strippers que eu conhecia eram poetas ou escritoras surpreendentes. Elas realmente escreviam prosa com quebras de linha, e o público punk gostava do sabor anárquico dos shows, então elas queriam se envolver. Era uma mistura fácil, especialmente se não tentássemos controlar o line-up e os resultados finais. Pessoas underground não gostam de regras restritas.”, ela explica. “O olhar se desviou em direção aos vampiros, aparições fantasmagóricas, um homem trans revelando o seu equipamento, e arte libertina em geral.”
Blowdryer levou o Smut Fest com ela para Nova York, mas foi no Mabuhay Gardens de São Francisco que ela realmente desenvolveu seu amor pelo “mau gosto sem fronteiras” e exagerado apelo sexual.
Glamour Fácil
A loja ideal para construir o estilo de quem frequentava o Mabuhay Gardens eram as lingeries provocantes do catálogo Frederick’s of Hollywood, o responsável por trazer o sutiã push-up para a América. Suas páginas ilustradas com pin-ups peitudas usando camisolas transparentes, sob o título: “Faça parte da ação!”, ou então mamilos que fugiam dos sutiãs meia-taças com o slogan: “Seja mau – Faça francês” (em alusão ao beijo de língua). A abordagem repleta de desenhos e lingeries com conotação sexual, fizeram perder qualquer senso e nuance de romantismo com uma impetuosidade típica americana, desviando a estética para um lado totalmente exagerado e quebrando todas as regras de boa conduta social.
Para uma “jovem, punk e pobre” como Blowdrier, “o único lugar para obter roupas remotamente legais era no catálogo do Frederick’s of Hollywood, onde eu pedia um maiô de oncinha que eu usava constantemente, junto com o meu cinto de tachas e um par de algemas de um namorado policial”.
Não era apenas a abordagem DIY do punks que quebrava as regras, as strippers também tinham afinidade (e uma necessidade) pela libertação sexual e o glamour exagerado. “Strippers tendem a ser underground, sem dinheiro e quererem um glamour acessível e fácil”. Blowdryer explicou como essas duas vertentes trabalharam lado a lado – uma perspectiva que casou perfeitamente com o estranho e o diferente, assumindo um estilo noturno que é aderido até hoje em dia e as pessoas nem percebem. “Eu e as outras fêmeas, drag queens e mulheres trans tivemos que vasculhar em brechós, já que não podíamos simplesmente entrar em uma loja comum e obter, digamos, algo rosa neon, saltos altos, ou até mesmo calças justas. O olhar coletivo era de uma stripper sobre os patins, mas as strippers glamourosas realmente não tinham que mudar muita coisa;. boás de penas já eram o toque final.” Assim, o Mabuhay Gardens tornou-se o local final para uma fusão das duas identidades: strippers e ícones do punk, unidos, tanto pela necessidade quanto pela sua abordagem transgressor à sexualidade, que celebrava o exagerado e o obsceno.
O que isso mudou na nossa vida?
Usamos muito preto, oncinha, cores neon, roupas que parecem lingerie (tipo o slip dress que está na moda agora), renda, roupas sexy ou pretas para ir na balada, tachas, zíperes, couro, fivelas, decotes, peças com informação fetichista, chokers, shorts e minissaias. Se não fosse por esse pessoal transgressor, nada disso seria considerado normal hoje em dia. Obrigada, punks e strippers. xx
Fonte: AnOther Mag
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