Já perceberam como as pessoas tendem a seguir determinados grupos e modas online de tempos em tempos? Como estou há muitos anos na internet, desde a época em que ela ainda era discada, já passei por quase todas e pulei fora das últimas – talvez seja a velhice (ou maturidade) chegando antecipadamente.
Mas vamos falar do meio que nos interessa, que são os blogs e etc. Quando os blogs surgiram e começaram a bombar, lá por 2009, ainda deu tempo para muitas anônimas interessadas em trabalhar na área conseguirem embarcar nesse trem e ainda sentar na janela. Como falei anteriormente, o público de meninas enxergava as blogueiras como pessoas comuns que poderiam facilmente conversar com elas de igual para igual, usavam as roupas parecidas e acessíveis, tinham gostos semelhantes. Depois que a fama (e as cifra$) chegou, tudo isso passou a não fazer mais parte da realidade da maioria dos blogs do Brasil, transformando as dicas de moda em algo tão inacessível quanto as apresentadas nas revistas – falam bem de quem as paga mais ou sobre algo que aumente seu status. Cabou-se.
Aí veio o Instagram, como uma tentativa de proximidade, mesmo mostrando o mundo de ângulos surrealistas que fariam até mesmo o Salvador Dalí e Max Ernst terem inveja. Aliás, esse parece ser o objetivo principal do aplicativo, causar inveja: comida mais deliciosa, animais mais fofos, corpos mais sarados, viagens perfeitas, filtros que apagam os defeitos, “cotidiano” enfeitado, etc. O conteúdo ficou tão inatingível para o público, principalmente para as meninas novinhas, que elas precisaram migrar para uma nova plataforma para se inspirarem – afinal, nem todo mundo quer viver simetricamente.
Então foi a vez das Youtubers. Lindas, sempre felizes e sorridentes, fofas, dando dicas bem realistas (principalmente de maquiagem e diy). Elas tinham um conteúdo muito plausível, real e simples. Todo mundo conseguia se ver em ao menos uma delas. Até que toda essa simpatia virou efusividade e os sorrisos ficaram tão grandes e forçados que não conseguíamos mais nem enxergar quem estava por trás deles. É claro que sempre haverá os “baixinhos” para acompanharem as Xuxas do Youtube, pois ali é a Terra do Nunca, ninguém envelhece nunca, então há um público que continua fiel até completar os seus 16 anos de idade. O pessoal acima dos 20 ~ 25 não tem mais tanto espaço nesse playground gigante.
Muitas adolescentes cansaram de ouvir suas ídolos afinarem cada vez mais a voz, enjoaram de tanto doce, infantiloides, good vibes e bater de palmas para o sol, por isso acabaram migrando para o Tumblr, um lugar beeeem mais cool. Lá você não precisa ser perfeita da cabeça aos pés, já que um cabelo desarrumado pode ser muito estiloso; a sua make não precisa ser carregadona, basta um rímel e uma pele bem natural; aliás, seu rosto nem precisa aparecer nas fotos se não quiser; um pijama pode ser muito mais atraente do que um look todo elaborado; camisetas básicas e jeans são o go-to e as fotos lindas sempre expressam uma espontaneidade e despretensão que, mesmo fake, fica bem crível (e fácil de copiar em casa). É o que atualmente tem influenciado todos os outros formatos de conteúdo de internet – e os offlines também, vide muitas revistas de moda.
O ponto que eu quero chegar com esse texto é: nada que não seja verdadeiro dura, obviamente. Mas o que é fundamental mesmo é não deixar o seu blog, o seu canal do Youtube, o seu Instagram, ou etc, virarem uma caricatura deles mesmos, não deixar cair no estereótipo. Esse será o grande divisor de águas daqui para frente. Ou você cria algo contundente e que acrescente algo para o seu seguidor/leitor, ou estará fadado ao ostracismo. Do mesmo jeito que aconteceu com os jornais, com as revistas de moda e assim vai. Só os bons vão sobrevivendo.
Eu, como grande observadora e consumidora desse tipo de conteúdo de internet, vejo tanta gente forçando desesperadamente para se encaixar nas novas mídias que surgem, chega a ser ridículo. Uma menina que é boa em escrever não precisa necessariamente ser boa para tirar fotos de Instagram ou produzir vídeos, por exemplo. Do mesmo jeito que quem faz vídeo não consegue se dar bem com a linguagem escrita. Não é pq somos vizinhos na internet que precisamos fazer as mesmas coisas. Foquem no que sabem fazer melhor ou migrem com ideias novas e diferentes para os outros lugares, mantenham-se originais e reais para seu público alvo. Não faça algo só pq é “muito coisa de blogueira/youtuber/tumblr”. Quem se destaca nessas áreas é quem faz diferente ou quem criou esse esterótipo. Se você está copiando algo, então automaticamente está seguindo os passos dos outros e perdeu o controle da boleia.
Se você cria conteúdo para crianças e adolescentes, não fique esnobando com marcas carérrimas, por exemplo. Afinal, são pouquíssimas (íssimas mesmo) que ganham uma Chanel, pinceis da MAC ou um Louboutin dos pais enquanto ainda estuda – a maioria nem depois de anos de formação acadêmica e carreira consolidada conseguem tal fato. E nem precisam, né? A felicidade e realização das pessoas nem sempre está atrelada a essas coisas materiais absurdas. A empatia, o se colocar no lugar do outro, é uma boa estratégia nessas horas.
Do mesmo jeito que se você é especializada em moda, não precisa fazer propaganda de desinfetante ou Doritos – sei lá, tô chutando coisas aleatórias como exemplo. Você quer ser blogueira ou celebridade? Menos ego e mais foco. Também não há nada de errado em ser prestigiada pelos grandes estilistas da alta costura, mas lembre que você é uma blogueira e precisa influenciar conteúdo e não apenas label. As suas leitoras até gostam de se inspirar na sua nova bolsa Hermès, mas querem encontrar essa informação de uma forma que possa ser acessível para ela – por exemplo, encontrar uma bolsa semelhante e boa de uma marca nacional que não custa o preço de 2 rins. Mantenha os pés no chão, você é uma blogueira. Use como exemplo o motivo do fracasso das revistas de moda e entenderá muito bem o ponto que quero chegar aqui.
Não tem nada de errado se você é fitness, malha, tem um corpo bonito e curte se exibir no Instagram, mas tenha noção de que você não é formada em saúde e não está apta para dar dicas de nutrição ou exercícios. Mostre a sua rotina, mas frise muito bem para o seu público a importância dos profissionais que estão ao seu lado te ajudando a conquistar tudo aquilo. Seja honesta. Também tenha muito cuidado com as suas palavras, já que o seu público é em grande maioria formado por pessoas com baixa autoestima e/ou com transtornos alimentares ou de imagem. Empatia sempre! Pesquise sobre o seu público e seus conflitos, entenda como passar mensagens corretas sem ofender, sem diminuir os outros e sempre direcionando eles para buscarem auxílio de profissionais da saúde (médicos, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos).
Tá faltando pé no chão? Tá! Tá cheio de estereótipos chatos por aí? Demais. Tem muita gente padronizando tudo? SIM, MUITA! Então deixo a dica aqui para vocês que consomem, criam ou querem criar conteúdo em qualquer uma dessas plataformas. Uma crítica construtiva que espero que sirva de lição para todo mundo que sempre me pergunta como ter sucesso na internet.
Para você que é apenas leitor ou seguidor, não esqueça de exigir tudo isso da pessoa que você admira. Não precisa ficar criticando e enchendo o saco nos comentários, apenas dê unfollow, troque de canal, blog ou @. A sua falta será sentida – quem trabalha com isso depende do seu like, da sua inscrição e do seu número para fazer volume.
Assistam também o vídeo da Mayã Meirelles que fala sobre a falta de conteúdo no YouTube.
P.S.: Em momento algum eu quis ofender ninguém e nenhuma crítica foi shade para nenhuma blogueira/youtuber/instagrammer em específico. Isso tudo é um pequeno desabafo sobre uma constatação geral que tive e achei válido compartilhar.
Todas as fotos do post são do talentosíssimo Miles Aldridge.
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