Hoje seria o aniversário de 125 anos de uma das minhas escritoras favoritas, Agatha Christie. Não é à toa que ela é conhecida como a “Rainha do Crime“, ninguém escreve tão bem uma história de suspense criminal quanto ela. O que mais me cativa em seu estilo é o cuidado com os pequenos detalhes, o livro inteiro é cheio de pistas que muitas vezes passam despercebidas por nós, mas quando é revelado o grande mistério no final, conseguimos conectar facilmente todos os pontos da trama que levaram a essa revelação.
Sem contar que, por ter sido enfermeira de guerra durante muitos anos e passado muito tempo ao lado de medicações, seu conhecimento em química era bem aprimorado, o que impulsionou seu fascínio em usar veneno como arma principal de suas histórias (mais de 80 personagens morreram envenenados).
“Já que eu sempre estive cercada de medicações, foi muito natural escolher a morte por envenenamento como o método principal em meus livros.” – Agatha Christie
Em 1916, por exemplo, ela escreveu sobre como a estricnina misturada com o brometo faz com que ele se precipite fora do líquido e acumule no fundo da garrafa, quando essa dose final é tomada, ele mata a vítima. Já na década de 60, descrevia os sintomas de envenenamento por Tálio de uma forma tão detalhada que médicos e detetives reais usavam essa história como referência para desvendar casos de envenenamento dessa substância. Ao menos duas vidas foram salvas por causa disso.
Deixando a morbidade de lado, seus livros são ótimos para exercitar o raciocínio. Não é uma leitura boboca qualquer e muito menos infantil, embora o nosso primeiro contato geralmente aconteça na escola. Particularmente, eu amo livros que me fazem pensar ou que acrescentem algum tipo de conhecimento na minha vida, e a Agatha Christie é certeira nisso. Uma leitura leve, porém cheia de mistérios, impossível curtir esse gênero e não gostar. É a escritora mais bem sucedida de todos os tempos, vendendo mais de 4 bilhões de cópias de livros no mundo – o que a fez recordista no Guiness Book.
Mas sua magistralidade não para por aí. O Poirot, detetive super famoso e principal estrela dos seus livros, é um gênio e pode-se dizer que é uma espécie de “alter ego” da Agatha. Nota-se claramente a influência da sua personalidade virginiana (perfeccionista, detalhista, metódica e racional) sobre o personagem. Ao contrário dos outros grandes detetives que vasculham por pistas físicas como “cães de caça”, Poirot consegue resolver um crime sentado em sua poltrona, já que seu único método de análise é a psicologia humana e uso de seu raciocínio. Ele não é um detetive de ação, mas meramente dedutivo.
Separei alguns livros que são bem comuns, fáceis de encontrar e que servem como ótima porta de entrada para o mundo incrível dessa escritora, já que escolher apenas 10 favoritos dentre os 66 de mistério seria missão impossível para mim. Assim todo mundo pode conhecer um pouquinho de suas obras e, quem sabe, virar fã também:
O CASO DOS DEZ NEGRINHOS – 1939
É o livro de mistério mais vendido de todos os tempos, batendo o recorde com mais de 100 milhões de cópias. Não é à toa que tenha sido eleito mundialmente como “o melhor livro da Agatha Christie“. Ela mesma admitiu que foi a história mais difícil de ser escrita e já foi adaptada para todos os tipos de mídia – para o teatro, por exemplo, recebeu um final alternativo mais feliz. A trama consiste em dez pessoas que são convidadas para veranear em uma ilha. No primeiro jantar, uma voz misteriosa vinda de um gramofone incrimina cada um dos convidados por suas participações em assassinatos que foram suspeitos de terem cometido no passado. É então que o jogo psicológico se inicia e eles começam a ser assassinados um por um. Ninguém sabe quem está fazendo isso e não há como sair da ilha sem um barco, a única escapatória é descobrir o culpado por trás disso.
ASSASSINATO NO EXPRESSO ORIENTE – 1933
Um dos livros mais famosos aqui no Brasil e foi por muitos anos o meu favorito da Agatha Christie. Inclusive eu amo a adaptação de cinema feita pelo diretor Sidney Lumet em 1974, com Albert Finney, Lauren Bacall ♥, Sean Connery, Jacqueline Bisset e Ingrid Bergman no elenco – até hoje uma das mais aclamadas adaptações feitas de um clássico da literatura de mistério. A história se passa dentro do luxuoso trem Expresso do Oriente, onde Poirot é abordado por um americano que teme pela própria vida. Efetivamente o pior acontece e o famoso detetive belga precisa reunir as pistas que o levarão ao assassino. No fim, uma surpresa: depois de se debruçar sobre uma complicada trama que envolve mentiras e falsos indícios, Poirot apresenta não uma, mas duas geniais soluções para o crime.
O ASSASSINATO DE ROGER ACKROYD – 1926
É o livro favorito da Agatha e foi seu primeiro grande sucesso. A história se passa em uma pequena vila britânica onde um suposto triângulo amoroso morre, dentre eles o milionário Roger Ackroyd. A vizinha fofoqueira dele, Sra. Sheppard, irmã do médico da cidade que narra a história, pede ajuda para Poirot desvendar o que realmente aconteceu por ali. É uma das tramas mais bem feitas e surpreendentes de mistério, a cada instante achamos que há um novo suspeito e no final há um “twist ending” impressionante. Sério, esse livro é genial!
CAI O PANO – 1975
Ao mesmo tempo em que é um dos meus favoritos, pois demonstra toda a genialidade de Poirot, é um dos mais tristes também, já que narra o último caso do detetive. Agatha fez questão de frisar que não queria que ninguém mais desse continuidade para as histórias do personagem depois que ela morresse. O livro foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial e permaneceu trancado em um cofre até o dia em que ela percebeu que não conseguiria mais escrever – foi seu último livro publicado. A história nos leva de volta para o local do seu primeiro livro, O Misterioso Caso de Styles (vou falar dele logo abaixo), e é narrado pelo Capitão Hastings – o “Watson” do Poirot. Eu chorei no final, de tristeza e alegria ao mesmo tempo, de tão bem escrito. Tem várias curiosidades sobre esse livro, mas aconselho a procurarem mais informações só depois de o lerem, já que pode haver muitos spoilers.
OS CRIMES ABC – 1936
Nos anos 30 a psicanálise ganhava cada vez mais espaço, então a Agatha Christie usou esse estilo para construir um serial killer com background baseado em problemas psicológicos – na época era praticamente uma novidade. O livro narra uma estranha série de assassinatos ocorridos em ordem alfabética. As vítimas são pessoas cujas letras iniciais de seus nomes coincidem com as letras iniciais das localidades onde moram. Por exemplo, a primeira vítima é Alice Ascher, de Andover. Além disso, o assassino avisa o local dos crimes nas cartas que ele manda para Poirot assinadas como “ABC” e deixa ao lado de cada corpo o guia ferroviário ABC. Aparentemente, as mortes são aleatórias, pois nada parece indicar que exista ligação entre as vítimas. Porém, Poirot, com a ajuda do capitão Hastings e do inspetor Japp da Scotland Yard, mostra que não é bem assim.
OS CINCO PORQUINHOS – 1942
Esse livro nos mostra o fascínio da escritora por memórias e tempo. Uma jovem mulher apresenta um desafio para Poirot: limpar o nome de sua mãe, condenada 16 anos atrás pela morte do seu marido. Para isso, ele precisa fazer sua investigação baseado apenas nos relatos das pessoas envolvidas no crime, estudando cada palavra e lendo nas entrelinhas. Obviamente ele aceita a missão e limita sua investigação aos cinco suspeitos mais prováveis.
O MISTERIOSO CASO DE STYLES – 1920
É o primeiro livro dela, escrito por causa de uma aposta em que sua irmã a desafiou, alegando que Agatha não conseguiria escrever uma história policial em que o leitor não fosse capaz de encontrar o assassino apesar de ter acesso às mesmas pistas que o detetive da história. Desafiar virginiano é pedir para perder, né. Além de escrever uma obra perfeita, foi lá e lançou sua carreira em cima disso. Porém, antes foi rejeitada por seis editoras e só depois de cinco anos conseguiu publicar esse livro (que nunca deixou de ser impresso desde então). A história é ambientada na enorme mansão Styles, onde uma rica herdeira hospedada morre envenenada, há vários suspeitos cheios de motivos para matá-la, mas apenas Poirot será capaz de nos dizer quem é o verdadeiro culpado. A história é narrada pelo tenente Hastings (que ainda não era Capitão) e o mais legal disso é que ele sempre tem conclusões parecidas com as nossas no decorrer da história, sendo corrigido e ironizado pelo Poirot durante todo o tempo, o que nos faz sentir mais próximos da trama.
CONVITE PARA UM HOMICÍDIO – 1972
Dessa vez quem investiga o mistério é a poderosa Miss Marple. “Convida-se para um homicídio que acontecerá na sexta-feira, em Little Paddocks, às 18:30.” Após esse anúncio ser publicado no jornal da cidade, muitos moradores curiosos acreditaram ser apenas uma brincadeira e compareceram ao local. Exatamente no horário marcado no anúncio, todas as luzes se apagam e um homicídio por pouco não acontece. O mistério é investigado pela polícia, com a ajuda da perspicácia da Miss Marple, que desconfia de tudo e de todos. Por trás dos cabelos brancos e das agulhas de tricô, a simpática velhinha tem um profundo conhecimento do ser humano – e das atrocidades de que ele é capaz. Essa personagem foi inspirada na avó materna de Agatha.
POIROT PERDE UMA CLIENTE – 1937
Assim como eu, Agatha ama cachorros. Passou a vida inteira cercada por eles e essa foi a chance de criar um personagem inspirado nos seus melhores amigos. Bob, o terrier da história, foi inspirado no seu cachorrinho Peter, um Fox Terrier Pelo de Arame descrito como um em um milhão (único). A história começa quando Poirot recebe a carta de uma mulher dizendo que seus parentes estavam tentando matá-la. Infelizmente a carta foi lida com atraso e ela já tinha sido encontrada morta. Todos os indícios levaram a polícia a crer que o acidente foi causado pela bolinha de borracha que o cachorrinho Bob deixou na escada, mas Poirot sabe que sempre tem algo a mais para investigar.
NOITE SEM FIM – 1967
Essa obra está no top 10 de favoritos da Agatha e foi escrita em apenas seis semanas, ao contrário dos três ou quatro meses que costumavam demorar. Michael Rogers – o narrador da história – é um jovem sem emprego fixo, que gosta de viver o momento sem a obrigação de fazer planos para o futuro. Prefere ser livre para aproveitar a vida. Um dia, ele se apaixona por uma jovem americana, herdeira de uma grande fortuna. Os dois se casam e constroem uma casa no Campo dos Ciganos, onde depois descobrem que é um lugar amaldiçoado. Uma velha cigana faz previsões terríveis para o futuro da esposa, caso ela continue a viver naquele lugar. Tragicamente ela morre em um acidente de cavalo, mesmo sendo uma exímia amazona. Será que sua morte foi mesmo acidental?
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