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Afro Fashion Day – Bloco 2 – Percussão Festiva

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Olá, leitores “Got Sin?”! Hoje trago para vocês mais um dos conteúdos exclusivos de moda sobre o Afro Fashion Day 2024. Aqui quem fala é Julia Nazaly, a orgulhosa correspondente de Salvador, Bahia e dessa vez trago o conteúdo sobre mais um dos blocos do desfile: o Bloco 2 – Percussão Festiva. Se você perdeu os outros conteúdos, clica aqui para entender um pouquinho mais o que é o AFD e sua importância para o cenário da moda, e aqui para conferir o conteúdo sobre o Bloco 1 – Percussão Ancestral. Não esquece de voltar aqui, tá?

Hoje falarei mais sobre o segundo bloco do desfile desse ano, que teve como tema a MÚSICA e que foi nomeado de “PERCUSSÃO FESTIVA”. O bloco foi inspirado nos grupos afro percussivos de Salvador como o Olodum e a banda Didá; que, ao tocar de seus tambores, provocam arrepios no público e tudo se transforma em uma grande festa. Repleto das cores vermelho, amarelo, verde e preto, o bloco transmite toda a celebração da arte, cultura e representatividade transmitidas por esses grupos musicais. A ordem do meu conteúdo segue a mesma ordem da passarela. Espero que gostem e logo em breve chega por aqui o conteúdo do bloco 3. Até mais!


Kriaçã1 / Amanda Leite

Sem sombra de dúvidas a marca foi responsável pelos looks mais “diferentões” da passarela, fazendo com que a Kriaçã1 tenha sido considerada por muitos a mais conceitual do AFD desse ano. Dona de uma mente hiper criativa, Amanda Leite, criadora da marca, gosta muito de usar sinestesia (mistura de sensações e referências aos 5 sentidos – visão, audição, tato, paladar e olfato) e memórias afetivas para desenvolver suas criações. “Eu aproveito o Afro Fashion Day e outros momentos grandes assim para mostrar esse lado mais artístico que eu acho que abraça o que eu queria passar com a Kriaçã1, que é de tudo um pouco, porque ali eu falo de moda, eu falo de arte, eu falo de conceito… porque eu acredito que a arte num todo é ‘50%/50%’. 50% da gente que produz e 50% do ‘outro’, que vem contribuindo com a sua visão de mundo. A arte nunca tá 100% concluída, a visão do ‘outro’ também agrega àquilo…”, explica a artista. Como uma pessoa multi artística, Amanda diz que, dentre os planos para o futuro da marca, ela busca “equilibrar” seu processo criativo, possibilitando que toda essa criatividade também possa levar ao desenvolvimento de coleções voltadas para o comercial, mas que sejam do jeito que ela espera para a marca.

O look apresentado no bloco Percussão Festiva fez referência ao gênero musical Samba Reggae e as bandas, grupos e blocos desse gênero. Além disso, Amanda buscou fazer uma homenagem aos integrantes da banda Olodum e em especial à figura de Bira Jackson, percussionista do grupo, que se inspirou em Michael Jackson para criar seu nome artístico e sempre usa vestimentas com essa espécie de “gorro/capuz” que cobre a cabeça e pescoço. A peça foi batizada de “Samba Reggae: Arrepio da Cabeça aos Pés” e teve como pilar inspirador a frase “Quando eu ouço o Olodum eu sinto um ‘negoço’ (sic)… olha só como eu fico arrepiado… assim… do nada!”, comumente dita pelo público frequentador dos eventos da banda. A peça busca fazer referência à própria pele, por isso o tecido utilizado fez parecer que a modelo estava vestida apenas com uma espécie de tule preto, mas existia um outro tecido nude no tom da modelo e que funcionava como uma “segunda pele”. Além dessa inspiração inicial, Amanda também fez referência à corrente sanguínea (representada pelas cordas vermelhas que seriam o sangue em si e amarelas que faziam referência à nobreza e ao ouro) e à “materialização” do arrepio ilustrado por meio das miçangas e presilhas douradas em formato de alfinetes de segurança que estavam presente na vestimenta, “da cabeça aos pés”. O toque final de inspiração no look foi a banda feminina afro percussiva Didá. Filha de arquiteta, Amanda Leite complementa a entrevista dizendo que muitas das suas memórias de infância foram formadas no Pelourinho, onde ela sempre via esses músicos ensaiarem e; fazer parte disso, ainda que de forma indireta, fez com que esse sentimento ficasse muito “latente” em suas memórias afetivas, então ela sentiu que esse ano foi uma oportunidade de revisitar esse “lugar” dessa “criança interior”.

Negrif / Madalena Silva

Referência em estampas étnicas e presente desde a primeira edição, Madalena Silva (apelidada carinhosamente de Madá Negrif), já possuía uma Identidade de Marca bem desenvolvida pela experiência de mais de 10 anos de carreira na moda e quase 4 anos de sua loja física antes mesmo dessa primeira participação no AFD. Hoje somam-se 13 anos de loja e mais de 20 anos de experiência na moda, mostrando que o AFD é para todos: desde as marcas consolidadas até os novos criadores da moda baiana. Na entrevista, a estilista me contou que a proposta inicial era de apresentar 2 looks, mas uma das produções não tinha ficado exatamente como havia planejado. Perfeccionista, ela acabou por desenvolver mais um look na intenção de efetuar a troca… porém, a equipe AFD gostou bastante de todas as três produções e optou por incluir todas elas. “A estrutura desse ano realmente foi merecedora desses 10 anos de evento. Esse ano inclusive teve o diferencial da gente (os estilistas) subir no palco já que sempre ficamos em baixo (na platéia)”, completa a criadora.

Este ano Madá se inspirou nas cores (verde, amarelo, vermelho e preto) e nos tambores do bloco afro Olodum para desenvolver suas peças. “Se você olha os tambores do Olodum, ele tem as camadas… então por isso que eu pensei nos babados para a calça, para a blusa…” diz a estilista ao esclarecer a escolha de produzir os três looks com muitas camadas e volume, alegando também que esses babados colaboravam para um look de alto impacto visual na passarela. Além disso, o ritmo musical reggae e suas cores também foram um ponto de partida de seu trabalho nesta edição. Um elemento adicionado pelo styling em um dos looks me chamou bastante atenção: um turbante amarelo vibrante que me fez lembrar automaticamente dos turbantes usados pelas mulheres do bloco afro Ylê Aiyê (o primeiro bloco afro do Brasil, que completou 50 anos de história em 2024).

Sillas Filgueira

Sillas participa do AFD há 4 anos com a sua marca Sillas Filgueira, mas possui uma história mais longa na moda pela sua experiência enquanto estilista em outras marcas do cenário. Além de ter a própria marca, Sillas ainda desenvolve para mais 5 marcas e produz os figurinos de balé de uma banda de Salvador. “O ponto de partida do meu trabalho é sempre fazer uma moda bonita, divertida, com essência… mas que seja totalmente comercial. Você vê que é uma roupa que você vai chegar num lugar e não vai ver ninguém vestido com aquilo, só você. Tem conceito, tem design, mas ela foi pensada para virar negócio”, afirma Sillas. Essa visão mercadológica não está pautada exclusivamente no lucro, mas sim numa forma de resistência: Sillas explica que sua marca é responsável por gerar renda em sua comunidade, empregando costureiras que ficaram desempregadas na pandemia e movimentando motoboys que trabalham no transporte dos materiais para a confecção e das peças já prontas. Questionada sobre como dá conta de tantas demandas de trabalho, Sillas afirma que às vezes não consegue contabilizar quantas funções exerce, “tudo isso sendo uma mulher preta, trans, da periferia e que vive apenas um sonho… acreditou e foi construindo degrau por degrau… ‘já temos o não… então vamos atrás do sim’ ”, completa a estilista. Sillas também afirma que, dentre outras qualidades, vê o AFD como um evento muito generoso por fazer seletivas de modelos em bairros populares colaborando para o destaque nacional e internacional de novos talentos que talvez nunca tivessem essa oportunidade de mudar de vida se não fosse o AFD.

A estilista conta que sempre se inspira muito na moda das décadas de 50, 60 e 70 para elaborar suas peças. Este ano ela apresentou dois looks com as cores propostas para este segundo bloco do desfile e que também remetem a orixás: um vestido vermelho (que remete a Iansã) longo que me lembrou muito alguns modelos usados pelas divas da Disco Music nos anos 70 como Donna Summer e Diana Ross, e um conjunto amarelo (que remete a Oshun) formado por saia e blusa que foram usados juntos dando a impressão de se tratar de um vestido, que lembra alguns modelos anos 50 e 60: “Eu gosto muito quando você faz uma compra assertiva e inteligente com duas peças que te permitem fazer outras combinações… você pode usar a blusa amarela com um jeans e a saia amarela com uma blusa branca, por exemplo”, explica. “Para essa edição de tema Música, eu queria fazer uma roupa que tivesse um movimento, por isso que eu utilizei aquela estrutura com os babados que quando a modelo andou, parecia que estava flutuando em cima dela… pra lembrar movimento, balanço, a dança, Carnaval, Olodum”.


AFRO FASHION DAY é realizado pelo jornal Correio e nesse ano de 2024 teve patrocínio da Avon e da Bracell, além do apoio da Rede Bahia, Caixa, Shopping Barra, Salvador Bahia Airport, Wilson Sons, Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador. Para ver mais detalhes dos looks, assista ao desfile completo disponível no Youtube!

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JULIA NAZALY
Baiana de Salvador. Criadora de conteúdo digital focada em autoestima, beleza consciente e saúde.

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