O post que eu mais tinha medo de fazer era esse. Relatar a perda de um cachorrinho nunca é fácil, ainda mais quando é o seu “filho” mais velho, xodózinho e mais grudinho.
Com quase 17 aninhos (faltavam apenas 4 meses para completar), o Lupi se foi na terça-feira da semana passada, dia 14 de junho. O seu pequeno corpinho não resistiu ao sopro no coração que estava bem avançado, causando problemas renais e tudo mais. Como o meu pai costumava brincar: ele já estava com a certidão de nascimento amarelada, de tão velhinho.
É difícil imaginar a minha vida sem ele por aqui. Ele fez parte da minha jornada desde os meus 11 anos de idade, ou seja, passei muito mais tempo com ele do que sem e nem lembro como era antes de tê-lo por aqui. Vivia grudado na minha costela, no meu colo ou ao meu redor. Sempre ao meu lado, literalmente. Parece que sofri uma amputação e um pedaço de mim foi levado embora. Ainda mais que a minha rotina ultimamente envolvia cuidar dele praticamente 24 horas por dia, por conta de todos os probleminhas de saúde que o atingiam.
O Lupi foi muito especial para a minha família, pois foi ele a chave de entrada para o mundo dos cachorros que vivem dentro de casa. Um mundo muito mais cheio de amor, alegria e energias boas. Graças a esse pequetito que nós viramos cachorreiros. Um pequeno vira-latinha que veio com uma missão tão importante aqui na Terra. (Obrigada, Luuu!)
Quando eu era criança, minha mãe não deixava a gente ter animais de estimação pq já éramos 3 pirralhos pestinhas que aprontavam o dia inteiro pela casa, então ela imaginava que colocar outro ser ali ia virar baderna pura. Mas como a minha irmã sempre sonhou em ter cachorros (eu ficaria contente com qualquer animalzinho), então insistia persistentemente essa história para a minha mãe. Até que as nossas melhores amigas, Caro e Ana, ganharam uma pinscher pequeninha e comportada, a Pitty, e a minha mãe se apaixonou por ela. Então a condição que ela impôs para a minha irmã foi que só a deixaria ter um cachorro se fosse do mesmo tamanho que ela. Missão dada é missão cumprida, ainda mais para as meninas mimadas que somos. A solução que nós tivemos foi: a Pitty tinha que ter um filhotinho! (As loucas, né? hahah)
Bolamos o plano junto com as nossas amigas sem contar nada para nossas mães. Como elas eram vizinhas de um cachorrinho muito lindo e pequeno, um Jack Russel Terrierzinho super simpático chamado Zé Luís, ele foi escolhido como futuro papai. O resultado foi uma ninhadinha de 4 cachorrinhos lindos e perfeitos, do jeito que queríamos. Ainda nasceram bem no Dia dos Professores – minha mãe e a mãe delas eram professoras! -, então não tinha nem como recusar o “presente”.
Aí chegou a hora difícil: escolher qual dos 4 traríamos para casa. Minha irmã queria o branquinho, meu irmão queria uma cachorrinha, a minha mãe queria um douradinho igual a Pitty e eu sempre quis o que parecia uma raposa. Foi uma briga para decidir, mas obviamente eu ganhei, né… e o Lupi veio morar com a gente. ♥
Eu fiquei encantada com aquele bichinho. Era tão fofo, tão lindo… o cachorrinho perfeito que eu tinha “encomendado” e que veio exatamente do jeito que eu queria. Se eu tivesse desenhado, teria saído igualzinho! Pena que o amor não foi muito recíproco e ele escolheu a minha irmã como dona no começo. Kuén, kuén, kuén!
Mas eu não me dei por vencida facilmente e não aceitei a derrota. Apesar dele ter sido o grude da minha irmã por uns 5 anos, eu consegui “roubá-lo” e trazê-lo para o meu darkside! MUAHAHAH Mentira, gente. É que ela começou a namorar e deixar ele de lado, aí eu só aproveitei a deixa. Viramos melhores amigos e ele não me abandonou mais desde então. Virou meu dimon!
Era um cãozinho de personalidade forte, quase um gato, só fazia o que queria e se fosse contrariado latia os seus “Aba, Aba” (nunca soube fazer “Au, Au”) e me defendia com unhas e dentes. Apesar de nunca ter dado a patinha, aprendeu como se comunicar com os humanos de uma forma bem surpreendente. Sabia responder “sinqui” (tipo um espirrinho de sim) toda vez que perguntávamos algo para ver se ele queria – por exemplo: comida, passear, etc. Me cutucava quando eu ficava muito tempo no computador e o ignorava, nas poucas vezes em que ele não estava no meu colo – 90% dos posts que escrevi no blog foram digitados dessa maneira. Ele até aparecia de penetra em alguns dos meus looks quando eu ainda os fotografava no meu quarto. Sem contar nas tentativas de fotos “aéreas” com objetos no chão ou na cama em que ele sempre se metia para ganhar a minha atenção. Gostava de andar dentro das minhas bolsas e principalmente de carro – era um Joãozinho Gasolina. Ganhava festinha de aniversário todos os anos.
Estava sempre bem vestidinho e amava usar roupinhas. Me esperava na porta do banheiro toda vez que eu ia tomar banho ou saia de casa – ele sempre achava que eu estava me arrumando lá, tadinho. Dormia toda noite grudadinho na minha costela. Amava tomar banho e entrava sozinho no box, depois aguardava ansioso pelo “ventinho” – o secador de cabelo. Também gostava de ser empurrado dentro de caixas de papelão ou na cadeira do computador, como se fosse um carrinho mesmo. Tinha como arqui-inimigo o Téo – o gatinho da Eliana, as lagartixas (que ele só encontrava quando ia para Florianópolis), qualquer pessoa que entrasse no meu quarto, o Kiko – meu antigo gato, a palavra Jurerê (até hoje não sei o motivo disso hahah, mas ele odiava ouvir), a mão malvada do meu pai (ele tinha a boa e a malvada, mas o Lupi só latia para a malvada) e ultimamente o Hogan – meu boxer.
Era único e muito especial. Tanto que por causa dele meus pais nos deixaram adotar a Lili e todas as dezenas de cães e gatos que tivemos – uns apenas de passagem para serem encaminhados para novos lares e outros que ficaram para sempre. Atualmente tínhamos 6 cães (com ele) e a minha irmã mais 2 que nos visitavam com frequência. Ele nos ensinou que os animais são fontes de amor puro, são sempre fieis à nossa amizade e os melhores amigos que alguém pode ter na vida. Ele era o meu Pikachu. O meu Guru do Bosque dos 100 Acres. A raposinha do Pequeno Príncipe. Meu suricate.
Como ele foi o nosso primeiro cachorro, serviu de “cobaia” para donos de primeira viagem aprenderem lições baseadas nos erros que cometíamos (tadinho!). Mas usamos todos os nossos equívocos como instrução para não repetirmos no futuro, nem com ele e nem com nenhum outro animal. Hoje posso falar que somos experts na criação de cães, dos filhotinhos até os vovôs senhores de idade. Sem contar o imenso respeito que adquirimos por todos os animais e a vida.
Apesar de eu amar ele tanto e estar com muita saudade, sei que sua morte foi algo positivo, pois o corpinho dele já não aguentava mais sobreviver. Um cachorrinho que sempre foi super saudável, brincalhão, elétrico, pulante (quase voador) até os seus 14 aninhos mas que agora já não conseguia mais nem levantar a cabeça, andava todo arqueado, ceguinho e sufocando vez ou outra. Não dá para eu ser egoísta e querer que ele continuasse aqui daquele jeito pelo simples prazer da sua companhia, ele merecia se libertar dessa prisão carnal que estava doentinha.
Desde 2013 ele inspirava cuidados. Começou com uma colangiohepatite bem forte que apareceu depois de tomar uma dose de vacina. Os veterinários falavam que era algo crônico e que não teria cura no caso dele, que inclusive ele tinha poucos meses de vida. Eu não aceitei isso, pois sempre desconfio que os médicos podem estar equivocados quando “sentenciam” um paciente dessa forma. Então fui atrás de alguma alternativa para o problema dele e achei a solução na Alimentação Natural, sem mais rações cheias de química para intoxicá-lo ainda mais. Eu fazia toda semana uma pastinha com filé de linguado ou alcatra (ficava 1 hora tirando todas as gordurinhas) com alguns legumes e arroz, super cansativo e trabalhoso mas valia a pena para mantê-lo bem. Ele começou a melhorar e virou outro cachorro, o pelo ficou super fofo, a energia voltou, não passava mais mal e em 7 meses o fígado dele estava completamente curado! Até a veterinária que fez o ultrassom se surpreendeu em ver como ele estava bem.
Quatro meses depois ele começou com uma tosse noturna. Suspeitei de uma tosse do canil, mas infelizmente o diagnóstico foi de sopro no coração. No ato já foi receitado um batalhão de remédios, tudo em dose cavalar, e a saúde dele começou a piorar. Era internado no hospital veterinário no mínimo 1 vez por semana. Ficava cada vez pior e eu pensei mil vezes que seria a última vez que veria ele, mas ele sempre voltava como um fênix, pois o desejo de continuar vivendo ao meu lado era mais forte do que tudo. Cada vez mais remédios eram receitados e ele não conseguia mais nem comer. Veterinários culpando a Alimentação Natural, sendo que ele estava emagrecendo por conta dos problemas renais que os remédios causavam. Até que uma veterinária louca receitou ANABOLIZANTE (para mim ela disse que era apenas uma vitamina) para o cachorro cheio de problemas, o que o deixou cego! Sem contar as vezes em que davam ração de latinha da mais vagabunda enquanto ele ficava internado, jogando fora as comidinhas saudáveis que eu preparava e, por conta disso, ele voltava para casa vomitando e mais doente. Para mim foi a gota d’água!
1ª internação do Lupi e a minha felicidade de encontrá-lo melhorzinho depois de quase 24hs longe dele.
Olheiras de preocupação por passar a noite inteira chorando sem dormir pensando se ele estava bem.
Foi um período muito frustrante. Ver um cachorro saudável definhar em 1 mês era demais para o meu gosto, mudei algumas vezes de veterinário e todos tinham o mesmo padrão de tratamento, embora diminuíam as doses, já que ele estava tomando quantidades excessivas de tudo. Então o meu tio insistiu para que eu levasse na vet de confiança dele e lá conheci a doutora Luciana Guidolin, que foi um verdadeiro anjo na nossa vida. Vocês não tem noção da diferença do Lupi antes e depois de fazer tratamento com ela. Sabe o que é uma profissional que busca se aprimorar especialmente para descobrir alguma novidade no tratamento do seu cachorro? Pois é. Ela encontrou todas as soluções necessárias, doses corretas e dicas certeiras para o Lupi. Tirou ele das cinzas!
Pisando na graminha pela 1ª vez depois de cego. (Ele amou!)
Embora ele tenha conseguido alcançar uma melhora absurda, o quadro dele ainda era gravíssimo. Precisávamos fazer soroterapia subcutânea todas as noites, que nada mais é do que aplicar uma bolsinha de soro embaixo da pele. A dra. Luciana nos ensinou direitinho como aplicar em casa e, apesar de no começo ser bem difícil por termos pena de furar o Lupi e ainda zero de prática, aprendemos com o tempo e deu tudo certo. No final, tivemos que ceder para as rações medicamentosas (aquelas da Hills para doentes renais e cardíacos) pois foi um desejo do próprio Lupi. Como ele estava no fim da vidinha dele, dávamos o que ele preferia e ele se adaptou bem com isso. Ele conseguiu viver mais 1 ano e meio dessa forma, sendo que antes falavam que ele tinha apenas mais uns 3 meses de vida.
No último mês ele começou a piorar e teve algumas crises de convulsão, algo que nunca tinha acontecido antes. Sua coluna foi ficando cada vez pior, não conseguia nem manter a cabeça erguida mais, andava curvadinho num passinho de vovô mesmo. Seu apelido na clínica veterinária era Noninho. Mas, mesmo fraquinho ele era forte, pois aguentou o que nenhum outro cachorro teria suportado e ainda nesse meio tempo ele viveu feliz do jeitinho dele. Ganhou tudo de bom e do melhor, como sempre, e ficou ao meu lado em cada instante. Tanto que ele faleceu nas minhas mãos.
É difícil lembrar da cena, mas acredito que o Lu se foi exatamente da forma que ele preferiu, comigo do lado. Para mim foi um choque, já que ele teve crises muito piores antes e sempre melhorava, então jurei que no outro dia ele estaria excelente como acontecia em todas as outras vezes. Mas dessa vez foi diferente.
Mesmo ele não acordando nesse plano, tenho certeza que despertou em algum lugar sem dor e cheio de luz, melhor impossível. Esse tipo de fé serve de consolo para a gente nessas horas, acreditar que existe um amparo e espíritos do bem dispostos a ajudá-lo do outro lado. A separação dói profundamente na nossa alma, mas é o processo evolutivo e precisamos aceitá-lo. A gente entra no meio de um filme e sai também na metade dele, é inevitável. Só desejo que todo o meu amor continue eternamente com esse pequeno grande cão e ele descanse em paz, pois sei que ele é um anjinho e merece ficar livre dessas amarras terrenas. Serei eternamente grata pelas lições que ele me ensinou e por ter tido a honra de sua companhia por tantos anos. Não me arrependo de nada e, apesar de ter parecido passar muito rápido, sei que o Lupi aproveitou tudo o que pode nessa vida. Ele foi embora no ano em que os melhores estão partindo, as grandes lendas, pois ele também possui tal magnitude.
As lágrimas são inevitáveis nesse momento delicado. Tô acordando no meio da noite só para chorar, gente. Por isso fiquei um tempinho meio ausente da internet. É difícil voltar para a rotina, mas vou dando um passo de cada vez. Vocês entendem, né? Quando abri meus HDs antigos para procurar essas fotos, meu coração ficou em mil pedacinhos de tanta saudade, mas aí comparei com as últimas fotos dele e percebi que realmente ele não tinha mais condições para continuar do jeito que estava, com certeza merecia descansar sua alminha tão pura.
Obrigada, Lulito! Fique bem onde você estiver. Até algum dia…
Te amo, melhor amiguinho! ♥
✩ 15/10/1999
✞ 14/06/2016
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